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Carreira | Publicada em: 18/06/2012

Aprender a aprender: o grande desafio profissional

Com a velocidade com que as coisas mudam é preciso buscar conhecimento o tempo todo porque, provavelmente, você vá utilizar no trabalho menos de 50% do que aprendeu na graduação

Lembra-se de tudo o que você aprendeu na sua faculdade? Pois boa parte já se tornou completamente desatualizado. A não ser, claro, que você tenha feito Filosofia ou História! Brincadeiras à parte, com a velocidade com que novas tecnologias são inseridas nos mais diversos campos do conhecimento, e não só na área de exatas, mas inclusive do pensamento humano, diante de tantas mutações comportamentais e políticas (redes sociais, opções sexuais diversas, novas configurações familiares), ou mesmo de consumo e gestão organizacional, é bem capaz que você utilize menos de 50% da sua graduação.

A observação vem do professor da University of Sussex, Michel Eraut, criador do work-based learning, método que transforma o trabalho em principal ambiente de aprendizado. Autor do livro “Developing Professional Knowledge and Competence”, Eraut defende que as pessoas usam apenas metade do que aprenderam na universidade em sua vida profissional. Avalia ainda que dentro do seu ambiente de trabalho, lidará com problemas muito mais complexos e a intuição será um fator importante para busca de soluções. E o aprendizado, por sua vez, será exercido na relação com equipes diversificadas, onde diferentes olhares para o mesmo “objeto” trará respostas inovadoras. Será?
 
O mundo sempre mudou. A diferença agora é a velocidade, o volume de informações e a necessidade de políticas mais transparentes, fruto das redes sociais e da interatividade com consumidores. O mais importante de sua formação agora é se você aprendeu a aprender. Ou seja, adquiriu a competência de pesquisar, buscar informações, desenvolver projetos colaborativos e saber escutar opiniões diferentes. E ética. Essa não sai de moda, se é sólida, ela vai com você no mesmo ritmo do mundo contemporâneo.
 
O seu comportamento, a sua atitude, cada vez mais serão mais determinantes que o seu conhecimento técnico. Essa não é uma observação pessoal: recrutadores de RH de empresas de renome têm se preocupado muito mais com as competências comportamentais do que o repertório técnico do candidato. Esse é mais fácil de talhar: seja em cursos presenciais, virtuais, e agora até aulas traduzidas de Harvard e Yale com legendas em português, disponíveis para você acessar o que há de ponta na sua área. Mas a forma como você lida com as suas frustrações, erros, desafios, colegas, superiores e relacionamento em geral, é uma formação que vem de longe. Do berço. E quando não... de algum divã!
 
Segundo pesquisa realizada pela consultoria Lab SSJ com 159 líderes de 32 empresas, cerca de  80% dos gestores acusam a falta de comprometimento, arrogância e individualismo como características mais indesejadas nos funcionários. Avaliam que 50% dos jovens colaboradores têm dificuldade de se comunicar, e 43% deles são centralizadores e imaturos.
 
Não por acaso Freud denominou o papel do psicanalista como “suposto saber”. O que pode saber o terapeuta das suas dores e angústias sem escutá-lo? Nada. Ele supostamente sabe, mas sem a sua fala, a sua expressão, esse conhecimento não se realiza. O Construtivismo é outra corrente pedagógica que há tempos sinaliza que o ato de aprender é por si um conteúdo. Quando me associo ao mundo, às dúvidas e aos saberes do outro, estou também eu construindo uma experiência, um novo saber.
 
Parece óbvio, não é? Mas o fato é que a formação da maioria das nossas escolas, públicas ou particulares, de qualquer nível, inclusive pós-graduações, oferece muito pouco dessa prática colaborativa como aprendizado. Ainda vivemos, predominantemente, no formato em que o ”saber” verticalizado, pautado na autoridade que pouco promove o trânsito dos diversos saberes. Se você não teve essa oportunidade em sua formação escolar, de desenvolver projetos em equipes, exercitar a argumentação, o erro e a superação, a vida profissional é a sua segunda grande chance. Aproveite. Você aprenderá muito.
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